Password B306.

Pássaros cantam do lado de fora da janela. Aquele costumeiro sol da manhã - que tanto adoro - entra pelas frestas da persiana. Levanto. Preparo meu café. Preparo minhas torradas devidamente amanteigadas. Abro as janelas, sinto o sol acariciando meu rosto, delicadamente. Sento-me no parapeito, observo a rua, já movimentada, andares abaixo. Noto uma mulher sentada em um banco, no outro lado da rua, com um bebê no colo. Imagino os sorrisos de ambas criaturas. Sinto de longe a aurea leve e feliz que envolve as mesmas. Pego-me em profundo devaneios, de um futuro - ainda distante. Questiono-me se um dia serei merecedora de tal felicidade. Se sequer terei preparação para recebê-la. Sem notar, vejo um homem se aproximando da mulher. Carrega algo em sua mão (Seria um sorvete?). Ele se senta ao lado dela e leva-lhe o que acho ser uma colher à boca (Sim, sorvete). Tenho a impressão - ou desejo - que estejam rindo. Um som interrompe bruscamente a minha observação. O notebook ao fundo da sala volta a chamar a minha atenção com o som de um novo email. Quando olho, para a minha grande surpresa, não é um anúncio ou algum vírus. Um familiar remetente. Uma familiar escrita. "Amor?" Uma audácia desconhecida até então. Meus pensamentos adormecidos envolvem-me em um manto de sentimentos que não me pertencem mais. Entre um pensamento e outro consigo ler: "Desculpe-me, An.". Não entendo o que mudou para tal email ser escrito. Na realidade, não entendo nada. Termino de ler. Paro pra ouvir a minha alma questionando: "Pra quê?". Concordo com ela. Mas por quê Mark parou de pensar o mesmo que nós duas? Volto ao parapeito da janela, continuar aonde parei. Espanto-me ao perceber que não há mais casal, não há mais bebê - e não há mais sorvete. Simultaneamente tenho um estalo. Volto para o email, responder, novo email: Annie envia. "Pra quê?". Sua mensagem foi enviada com sucesso. (Meu café termina de esfriar. Minhas torradas estão moles, frias.)

Abro os olhos. Pássaros cantam do lado de fora da janela. Aquele costumeiro sol da manhã...

Annie.

Carla Bruni @ Quelqu'un m'a dit.

0 irrelevância(s):

Postar um comentário