(Just like) starting over.

Perguntaram a John Lennon:

- Por que você não pode ficar sozinho, sem a Yoko?

E ele respondeu:

- Eu posso, mas não quero. Não existe razão no mundo porque eu devesse ficar sem ela. Não existe nada mais importante do que o nosso relacionamento, nada. E nós curtimos estar juntos o tempo todo. Nós dois poderíamos sobreviver separados, mas pra quê? Eu não vou sacrificar o amor, o verdadeiro amor, por nenhuma piranha, nenhum amigo e nenhum negócio, porque no fim você acaba ficando sozinho à noite. Nenhum de nós quer isto, e não adianta encher a cama de transa, isso não funciona. Eu não quero ser um libertino. É como eu digo na música, eu já passei por tudo isso, e nada funciona melhor do que ter alguém que você ame te abraçando. "

Canela com café.

Entro na livraria, sinto o aroma altamente familiar de café. Peço meu cappuccino. A moça atrás do balcão escreve meu nome na comanda - e para a minha surpresa, o escreve corretamente. Hoje é uma típica terça-feira, com um sol vibrante pincelando o céu azul, sem nenhuma nuvem. Apesar dos recentes acontecimentos, acordei bem. Não lembro do que sonhei. Daqui a pouco terei que deixar o santuário dos livros - que acolhe-me tão bem - e seguir com o dia. Amanhã faltará uma semana para mais uma primavera. O relógio não pára. (...)

A música solta suas notas e tons no ar. Hoje ouvi alguém, com mais experiência que eu, aconselhando-me sabiamente a ficar longe de certas complicações. A criar uma 'blindagem' para permanecer fora disso. Também escutei que várias pessoas dirão inúmeras críticas. Dizendo que sou insensível, até mesmo indiferente. Sorri ironicamente e respondi 'Dirão?'. E recebi um riso de como quem acabou de compartilhar um segredo, seguido da pergunta retórica 'Já dizem, não é?'. E eu continuo atrás da minha blindagem. Continuo me escondendo. Continuo não escutando quase ninguém. Seja isso bom ou ruim.

U2 @ Sometimes You Can't Make It On Your Own.

Password B306.

Pássaros cantam do lado de fora da janela. Aquele costumeiro sol da manhã - que tanto adoro - entra pelas frestas da persiana. Levanto. Preparo meu café. Preparo minhas torradas devidamente amanteigadas. Abro as janelas, sinto o sol acariciando meu rosto, delicadamente. Sento-me no parapeito, observo a rua, já movimentada, andares abaixo. Noto uma mulher sentada em um banco, no outro lado da rua, com um bebê no colo. Imagino os sorrisos de ambas criaturas. Sinto de longe a aurea leve e feliz que envolve as mesmas. Pego-me em profundo devaneios, de um futuro - ainda distante. Questiono-me se um dia serei merecedora de tal felicidade. Se sequer terei preparação para recebê-la. Sem notar, vejo um homem se aproximando da mulher. Carrega algo em sua mão (Seria um sorvete?). Ele se senta ao lado dela e leva-lhe o que acho ser uma colher à boca (Sim, sorvete). Tenho a impressão - ou desejo - que estejam rindo. Um som interrompe bruscamente a minha observação. O notebook ao fundo da sala volta a chamar a minha atenção com o som de um novo email. Quando olho, para a minha grande surpresa, não é um anúncio ou algum vírus. Um familiar remetente. Uma familiar escrita. "Amor?" Uma audácia desconhecida até então. Meus pensamentos adormecidos envolvem-me em um manto de sentimentos que não me pertencem mais. Entre um pensamento e outro consigo ler: "Desculpe-me, An.". Não entendo o que mudou para tal email ser escrito. Na realidade, não entendo nada. Termino de ler. Paro pra ouvir a minha alma questionando: "Pra quê?". Concordo com ela. Mas por quê Mark parou de pensar o mesmo que nós duas? Volto ao parapeito da janela, continuar aonde parei. Espanto-me ao perceber que não há mais casal, não há mais bebê - e não há mais sorvete. Simultaneamente tenho um estalo. Volto para o email, responder, novo email: Annie envia. "Pra quê?". Sua mensagem foi enviada com sucesso. (Meu café termina de esfriar. Minhas torradas estão moles, frias.)

Abro os olhos. Pássaros cantam do lado de fora da janela. Aquele costumeiro sol da manhã...

Annie.

Carla Bruni @ Quelqu'un m'a dit.

Unknown Caller.

O vento balança a cortina branca do meu quarto, ela voa. O vento pára. A cortina branca repousa suavemente, como se nunca tivesse alçado voo anteriormente. Meus pensamentos, ao seu contrário, permanecem intactamente fervilhantes. Embora os meses passem, as estações mudem e as matérias no pré-vestibular evoluam, os pensamentos estão imutáveis. Sobre os sentimentos, não ouso proferir o mesmo. A cada capítulo encerrado nasce uma nova pessoa aqui dentro. Acho que o nome disso seria experiência - ou não. Embora eu não consiga ter tamanha hipocrisia para ignorar todos os fatos. Ao mesmo tempo, existe uma certa obrigatoriedade em agir como se nada me afetasse. Triste ilusão - risos. É evidente que em alguns - muitos - momentos pego-me com aquele costumeiro buraco no peito. Um misto de saudade, preocupação, tristeza, amor... uma falta que chega a ser peculiar de tão inexorável. Entretanto, também há aspectos positivos. Como a liberdade. Nada como uma sensação de irresponsabilidade, de não ter correntes com nada - e nem ninguém. Sem explicações, obrigações. Discussões, ciúmes. Nada disso me pertence mais, feliz ou infelizmente (ou os dois, simultâneamente).
O irônico 'Por que?' continua pairando em meus pensamentos ocasionalmente. Mesmo que a verdade seja a que programei a minha mente desde o início para esse tipo de situação, nunca controlamos nossas reações e emoções. Nesse ponto lembro do que todos sempre me disseram, dizem e sempre dirão: Incrível é o tamanho da minha força. A audácia de me fazer ter sentimentos ruins não penetrou em mim. Não senti desespero, raiva, inconformação, dor ou qualquer outro derivado destes. Me entregar seria um presente. Permaneci de pé, inabalável para toda e qualquer circunstância. Continuo sendo impertinente para com a minha vida, tendo assim sempre um sorriso no rosto. Me impondo pro mundo e seguindo em frente. Não são meia dúzia de problemas e/ou pessoas que me derrubarão. Não possuo a ilusão de que o pior já passou. Terei um tempo de folga sim, tempo em que muitos fatos podem - e vão - acontecer. Mas ainda há muita vida pela frente, muitos capítulos à serem escritos. Lidos. Encerrados. E revisados, é claro.
Apesar d'eu ser uma pessoa extremamente intensa, típica Ariana, de não fazer parte de padrões ou rótulos... tenho orgulho disso tudo. Várias coisas banais me irritam profundamente e várias outras proporcionam-me felicidade. Sou psicótica, sou difícil. Porém, me aceito. Tenho meus milhares de erros. Quando confio em alguém, confio demais. Quando gosto, gosto demais. E quando me machucam, dói mais do que deveria doer. Mas por outro longo tempo, me fecharei além do necessário. Não acreditarei mais nas pessoas e só dependerei de mim mesma. Como sabiamente dizia o grande Renato Russo: "Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá. Tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar. Tem gente enganando a gente, veja nossa vida como está. Mas eu sei que um dia a gente aprende. Se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança." (...)

Após meses digo isso tudo que queria pôr pra fora desde o início. Somente outro registro de mais um capítulo encerrado - e de outro iniciado. Semana que vem completo minhas 19 primaveras. Num dia que tem tudo pra ser magnífico. Longe dos meus problemas. Ironicamente perto da causa de alguns deles. Mas a influência disso sobre mim teve o seu fim. Como todo carnaval. Como toda primavera. Como tudo.

Florence + The Machine @ Heavy In Your Arms.