Password 156.

Vento. Frio. Pressa. Aperto a bolsa contra o peito, como se isso trouxesse algum tipo de conforto. Meus passos ganham velocidade, ouço meu belo par de botas chocando-se frequentemente em obstáculos na calçada. Tropeço, quase caio. Só quero cruzar a porta do meu apartamento. Porém, por mais que eu me esforce, não consigo prestar atenção no caminho. Tropeço mais uma vez. Olhando para os meus desajeitados passos no chão, reparo que consegui chegar viva na entrada do prédio. "Aonde estão essas malditas chaves?" - bravejo em pensamento, enquanto ouço trovoadas anunciando uma chuva já prevista. Entro em casa, tranco a porta, jogo as chaves na mesa de entrada. Solto a bolsa ao pé do sofá e solto meu próprio corpo na minha adorável poltrona azul turquesa. Fecho meus olhos lentamente. Mentalmente, tento me convencer de que tudo irá melhorar. Afinal, Agosto e o seu típico inferno astral finalmente chegaram ao fim. Espero que o final deste cansativo ano seja tranquilo. Levanto-me, descalço as botas, vou até a janela e sento em seu parapeito. Assisto o espetáculo de dança que os pingos de chuva proporcionam. Cada um com a sua própria coreografia. Volto aos meus pensamentos. Começo a refletir como a vida tem sido irônica. Da turbulência de acontecimentos que ainda pairam no ar. Sinto falta dos dias calmos e das brisas felizes. Das cores que todos aqueles sentimentos me faziam enxergar. Falta dos aromas, dos sabores. Do conforto, e até das insanas preocupações. Hoje tenho lutado para simplesmente continuar a sonhar. Ter planos. Traçar metas. Voltar a ser vívida. Interrompendo meus devaneios, meu celular avisa o recebimento de uma nova mensagem. Estico o braço e quase caio, tentando alcançar a bolsa. Pego o celular e, assim que vejo o remetente, abro um sorriso. Antes mesmo de ler já imaginava qual era o conteúdo. Passo os olhos pelas letras - ouço cada sílaba - e confirmo minha afirmativa: "Você me orgulha". Alastro ainda mais o sorriso e respondo singelamente: "Não sou de todo mal, viu? haha". Vou até a cozinha e preparo o meu - já tradicional - café com gotas de menta. Levo minha xícara até a janela e aninho-me novamente em seu parapeito. Ali compreendi a certeza que já se alastrara por todo o meu corpo e mente: Tudo ficará bem. Agosto já se foi.

A chuva continuava a cair. O café lentamente chegava ao fim.

Annie.

Jem @ Maybe I'm Amazed.

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