Password C683.

Surreal. Inexorável. Minha expressão não consegue omitir tamanha perplexidade que me foi causada com a chegada do correio matinal. Em plena - e ensolarada - terça-feira, meu - que nunca foi realmente meu - Henry decide por livre e espontânea vontade cumprir suas palavras de um passado que não nos pertence mais. "Mandar-te-ei uma carta, escrita à próprio punho, dando-lhe todas as explicações que vais cobrar um dia.". Passo meus dedos finos e longos pelo envelope, acariciando as marcas da tinta preta, desenhando delicadamente sua perfeita caligrafia. Olho através da cortina entreaberta o raio de sol que ilumina exatamente o lugar em que me encontro sentada, em meu sofá azul turqueza (...).

Um barulho irritantemente forte perfura meus pensamentos. Badaladas. 10 badaladas. Olho para baixo e deparo-me com as próprias mãos entrelaçadas ao vestido amarelo que coloquei assim que acordei. Devaneios. Sempre crueis, sempre pontuais. Meus olhos ardem. George me aguarda no café, há 6 minutos. Pego minhas chaves, tranco a porta, aciono o alarme. Aciono o alarme da minha mente instável, simultaneamente. Dirijo-me ao caminho oposto, e sinto George se afastando lentamente... sinto meu café com delicadas gotas de menta esfriando. Comigo, simultaneamente.

Annie.


Radiohead @ Last Flowers.

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