Um tempo depois, quase no fim da apresentação, vi sua mão descansando na minha perna e notei que você tinha pegado no sono. Pensei em te acordar pra irmos pra cama dormir, mas você estava tão sereno dormindo, tão tranquilo, com um mini sorriso nos lábios. Só continuei te olhando, mexendo no seu cabelo e quase degustando aquele momento - que ali mesmo notei o quanto era importante pra mim, por mais banal que fosse. Enquanto eu vivia aquilo e te olhava dormindo no meu colo, percebi o quão natural era essa situação entre a gente. Veja bem, eu sou uma pessoa cética que não acredita em religiões e afins, mas ali só pensei que o que eu tava sentindo parecia um sentimento de muitos anos. A minha impressão era de que a gente já tinha passado por momentos como aquele infinitas vezes, que aquela era uma rotina gostosa que nós já vivíamos há muito tempo. Ali eu percebi o óbvio: Eu já conseguia ver um futuro tão a longo prazo, e via tão claramente, como se na realidade fosse uma memória e não uma projeção.
Curioso que hoje penso na loucura que é ter um sentimento assim com uma relação tão recente até aquele momento, mas que ao mesmo tempo é algo que até então eu nunca tinha sentido em nenhuma outra. E eu sei o quanto é clichê falar isso, que nunca se viveu algo como aquilo antes e etc, mas a verdade é que eu sempre tive dificuldade em me ver a longo prazo com alguém no sentido de conseguir vislumbrar como seria depois de uns anos, se viveríamos juntos, se aquilo teria futuro. Em todas as relações foi assim, menos nessa. Pra mim foi um choque quando me peguei vendo isso sem querer, sem intenção, naquele momento vendo você dormir. E eu sorri, pensando que não era possível a essa altura da vida me sentir feliz daquele jeito (desse jeito). Com muita certeza de que a gente viveria - e vai viver - tantos momentos ainda, bons, ruins, simples, importantes. Juntos.
Momentos pequenos, mas que são grandes demais e que definitivamente precisam ser lembrados.
Radiohead @ Last Flowers