Where's the password?

Potes de biscoito. Intrigantes potes de biscoito. Guardo vários tipos de potes de biscoito, todos expostos em minha cozinha aconchegante. Geralmente ao olhar cada um deles, metodicamente, a infância invade minha mente. Rodopiando lembranças, emoções, nostalgias. Saudade. Aquela palavra cujas traduções nunca vieram a existir. E aquela palavra que mais me machucou na vida (ainda machuca - silêncio). Olho pela janela, 5 andares separam-me do chão. Ouço o pão pulando na torradeira. Já são 9 horas, mas o tempo nublado, chuvoso e frio trouxe-me uma simpática gripe. Sinto cheiro de minhas torradas recém-prontas. Aquele cheiro que lembra os desenhos de quando éramos crianças - geralmente Pica-Pau - nos quais aparecia aquela mão com dedos sedutores, feita com a fumaça quase incolor proveniente dos alimentos apetitosamente frescos. Ainda visto meu pijama flanelado com meu roupão azul turquesa - e pretendo tomar meu banho e permanecer do mesmo modo depois. Levo minhas torradas - agora pinceladas com manteiga derretida - junto à minha xícara de café, fresco e quente, até a poltrona listrada que descansa junto a janela. Um feixe de sol surge bem ao meio dela. Propício, não? Ainda vejo minhas 2 pedrinhas na mesinha de chaves ao lado da porta. Elas me encaram, fitando meus olhos adentro. Desvio o olhar, mas é tarde demais. As 2 pedrinhas já alcançaram seu objetivo eminente. Pousei a xícara na janela e apoiei meu queixo sobre a própria. Fecho meus olhos e vejo um jardim japonês. Abro os olhos e o sol invade meu interior, sem ao menos pedir permissão. Fecho meus olhos e vejo a mim, pulando para atravessar um caminho de pedras. Olhando para trás e rindo - feito uma criança - envergonhada. Recebendo em troca um outro sorriso - juntamente com um olhar - iluminado de alegria. Abro os olhos e minha vista encontra-se embassada. Fecho os olhos e vejo o topo de dois conjuntos de bambus. Abro os olhos de maneira brusca e começo a desmanchar de maneira lenta, vaga e dolorosa. Esfrego as mãos em meu rosto, termino meu café e deito-me desajeitadamente no sofá. Com as mãos escondendo o rosto - ainda. Abaixo as mãos, olho para o teto amarelo. Meus batimentos cardíacos retornam para seu estado tranquilo, conforme os minutos transcorrem. Fecho os olhos. E nós continuamos dançando.
Just 'cause you feel it, doesn't mean it's there...

Annie.


Radiohead @ There There (The Boney King Of Nowhere)

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