Olho para um lado. Olho para o outro. Espio todos os cantos. Feito uma criança prestes a realizar uma travessura. Ou um assassino prestes a dar o golpe final. Sinal de insegurança. Olho para baixo, começo a estalar os dedos. Ajeito o cabelo de um jeito. Depois de outro. Desvio os olhos. Perfuro a palma da minha mão de tanto apertá-la com minhas unhas vermelhas. Sinto meu rosto arder de tão vermelho que encontra-se. Ao menor movimento, paraliso o mundo. Meus olhos focam tudo que está diante de mim - diante da minha vida. (Open up your eyes, open up yo...)
As luzes da manhã ensolarada invadem o meu quarto através de uma pequena brecha na cortina. Insistem em abrir minhas - até então - lacradas pálpebras. Vencida pelo cansaço, resolvo ceder. Os flash's de memória aparecem de tal maneira que atordoam meus pensamentos. Tudo se mescla, há segundos em que não sei mais nem meu próprio nome. E sabe o primeiro sentimento que predomina a minha mente a cada manhã que insiste nascer? Medo. Medo de mim. Não me acho ruim, longe disso... Mas não consigo lidar com a inconstância das minhas emoções. Queria conseguir ser firme no que sinto com relação a mim mesma. Não é só a velha conhecida, a insegurança... É bem mais que isso. Um 'bem mais' que não consigo explicar nem pra mim mesma. Horas que eu sorrio sem razão, que confio em mim mesma, que tenho uma certeza quase cósmica de que as coisas vão se resolver na hora certa. E as - inexoráveis - horas que as lágrimas chegam sem pedir licença, por dentro, e logo querem toda a atenção. Assim exteriorizando-se olhos afora. Aquele desespero no peito... a incerteza de todo um futuro. E finalmente a palavra que faltava aqui: O Medo - Nosso ilustre companheiro. Sim, aquela velha história. Medo de nada dar certo, da minha pessoa estragar tudo e lá lá lá. Até eu me canso dessas mesmas coisas. Pior: Mesmas coisas, mas que, de alguma forma, são completamente diferentes! Me acho, me perco, amo, (penso que) odeio, tenho esperança, mando um 'dane-se' pra tudo, sou meiga, sou fria. Tento ser um mártir, enquanto não preciso ser. Não preciso guardar tudo pra mim, como sempre faço. Não preciso guardar minhas lágrimas e meus sorrisos pra mim mesma. É meio que um egoísmo não querer compartilhar o que quer tanto sair daqui de dentro.
Um dos maiores erros é questionar-se. O por quê de certas atitudes. O por quê de certas decisões. Não há nada nessa vida que tenha tais explicações. Não há motivos. Só pequenos impulsos. Acasos. Percepções. (Palpitações). Premonições. Há o destino, mas também os caminhos que nós próprios traçamos. Nem tudo são flores, nem tudo são revólveres. Mesmo que eu insista em fazer da vida um '8 ou 80', viver de extremos nunca caiu bem. Tem sim que haver um meio termo. Assim como questionava um amigo ontem, como podemos não descontar o mundo desmoronado em pessoas que nada tem com isso? E aí parei pra pensar que, nesse caso, não existe outra personalidade... não com quem não consegue 'não ligar'. Se esconder de pessoas diferentes das outras, isso sim é desafio. Fácil enganar até os que se julgam mais íntimos... triste ilusão deles. Incrível a capacidade de alguns seres humanos em mentir para si mesmos sobre outras pessoas. O 'querer acreditar'. Não passamos de uma pobre raça medíocre, que não sabe o que é amor. Que não sabe o que é união. O que sentimos são apenas sombras projetadas desses grandiosos sentimentos. Sempre acreditei na teoria de vida alienígena. E acredito também que eles não fizeram contato algum por serem inteligentes ao ponto de terem medo. Pois o medo é uma clara forma de inteligência (ir)racional. Auto-preservação. (...)
Finalmente chegamos ao final de Dezembro. Olho para 2010 e, pela primeira vez, não sei o que sentir. Não sei o que achar. Não consigo julgá-lo, ele foi mais complexo do que apenas 'bom' ou 'ruim'. Começou bom, continuou bom, tornou-se épicamente bom, alcançou um ápice da perfeição e então desmoronou. E durante meses... Não, eu não lembro dos meses. Não lembro das minhas lágrimas ou sorrisos. Nem sequer das esperanças ou desesperos lembro... Aquilo que uma amiga falava da própria vida acabou acontecendo com a minha, sem ao menos me dar conta. Situações traumáticas que bloqueiam lembranças. Os meses que arrastaram-se feito correntes, e que agora vejo que passaram 'hipersônicamente' rápido. E depois uma felicidade inusitamente estranha. Irônica. Improvável. Instável. Que eu realmente assumo, não acreditava. E que acaba por ser a mais duradoura que já tive. Em termos de persistência. Paciência. E mais mil coisas que devo ter aprendido nesse tempo. Para comigo. Para com as pessoas. Para com.
Estranho é ver o tamanho das expectativas que todos nós tínhamos pra esse ano. Que não foi um ano ruim... mas que mesmo assim, nos decepcionou além do esperado. Em infinitos aspectos. Não sei o que esperar de 2011. E acho que nem devo o fazer. Seja o que tiver que ser. Farei o que estiver ao alcance das minhas mãos, afinal, nada vem de graça. Mas que o destino se encarregue do resto - esperemos que seja um resto bom. Umas das maiores lições que conclui foi a de perdoar. Não tenho mágoas. (Embora perdoar não signifique esquecer) Não gosto mais de vinganças - quem diria. E desejo, como sempre, felicidade. Isso tudo é muito 'lei da atração'. À partir do momento que passei a levar as coisas com mais calma, mais leveza, e até com uma certa dignidade, minha cabeça ficou melhor. Mais forte, e mais sensível com as pessoas. E mesmo com uma parte do meu mundo insistindo em desmoronar, eu continuo sendo uma coluna impertinente que insiste em manter-se de pé. E digamos que impertinência é realmente uma palavra que não me falta - risos.
Então desejo que esse ano que correu tanto para chegar seja um bom ano. Sem demasiadas expectativas, mas com um 'querer' das coisas. Não apenas desejos, mas 'querer'. (Vide texto do post anterior). 2011, seja o que tiver que ser, seja bom para as pessoas. Seja bom pra mim. Seja bom para essa humanidade que precisa de doses de esperança, não de destruição. Embora eu ache que buscamos tudo isso que vem acontecendo, peço esperança. Confiança. E então amor. Afinal, o que somos nós sem amor? Em tudo que essa palavra engloba. Caridade, fraternidade, igualdade, amor para com amigos. Para com a família. Para conosco. Para com desconhecidos. E para com algum escolhido. Fé, muita fé. Porque cheguei a conclusão de que tudo é proveniente dela. Que o que parece impossível torne-se possível. E todo aquele resto que todos nós, meros mortais, falamos ao final de cada ano.
Adeus, meu caro 2010. Bem vindo, doce 2011.
Chico Buarque @ Roda Viva.
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