Sentada a janela, sinto os trilhos percorridos por este trem. Encosto meu rosto ao vidro gelado, que retrata a imensidão da neve lá fora. Ao fechar os olhos lembro-me de cada detalhe do rosto de Henry. O desenho de seus olhos, a expressão dos mesmos ao encontrarem os meus. As ruguinhas de expressão que formavam-se ao lado deles quando um sorriso era esboçado. O jeito deliberadamente singelo e carinhoso com que eu era observada. Sinto meu coração desmanchar-se inteiramente. Lembro como se estivesse ocorrendo nesse instante, a voz dele indagando-me: 'O que foi, Annie?'. Só pelo fato de meus olhos não conseguirem desvencilharem-se dos seus, por toda a minh'alma ficar paralisada no tempo só para poder continuar observando-o minuciosamente. E a minha pessoa responder-lhe que não era nada, enquanto o meu pensamento analisava a maré de sorte que estava em minhas mãos, ao alcance do meu olhar - e de minhas palavras. Abro meus olhos, encontro-me congelada junto ao vidro, não sozinha... George dorme profundamente em meu ombro. E mesmo não fazendo ideia se Henry sequer dará algum sinal de vida, um pedaço de minha melhor essência estará com ele, mesmo que guardado sem o seu consentimento. Não consigo odiá-lo, não consigo deixá-lo partir. Essa é uma inexorável contradição. Infelizmente, hoje, Henry não passa de uma memória. Que de tão imaculada me parece mais uma ilusão, um devaneio. Ou talvez um sonho. A mão de George repousa delicadamente sob a minha, isso é real. Não é perfeito, e nem de longe o que meu âmago desejaria, mas é o que ganhei em troca de tantas lágrimas. E espero ardentemente que, um dia, o pedaço que Henry deixou para traz comigo possa voltar para o seu devido lugar.
Don't worry...
Annie.
Coldplay @ Death And All His Friends
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