Shout, let it all out.

Sentada em minha cadeira, fito o teclado sem perceber. Não decidi - ainda - o que vou lhe dizer. Mas a cada minuto perdido tenho mais certeza de que a minha súbita coragem chegará em breve. Minhas inconstâncias são interrompidas por uma janela laranja, piscante e barulhenta, que surge em minha barra de ferramentas. Antes mesmo de levantar os olhos eu já tinha ideia de quem era. E quando me dei conta já tinha composto uma história - a minha - para o mesmo. Fiquei extremamente surpresa quando percebi que, diante de mim, surgira um amigo. O qual me ajudou a começar a chorar descontroladamente, mas que abriu meus olhos para um novo ponto de vista da mesma situação. A súbita coragem começara a brotar naquela fração de segundo. Derrepente quem eu menos esperava que fosse aparecer, surgiu começando uma conversa casual 'tudo bom?'. Não consegui colocar a máscara a tempo - ainda bem. Respondi prontamente que não. Claro que eu já esperava perguntas sobre o que havia acontecido, e já tinha as respondido quando parei pra respirar entre uma lágrima e outra. Em minha cabeça nunca tinha passado que eu fosse receber apoio e incentivo nesse aspecto, nessa situação. Enganei-me novamente. Com 2 pessoas me apoiando assim já havia adquirido a coragem necessária para fazer o que devia ser feito Meu coração palpitava de tal maneira que eu chegava a sentir dor. Meu corpo inteiro exalava medo. Começo a achar que existia uma certa premonição nisso tudo. No fundo eu já tinha consciência do que estava acontecendo (...).


Eu só queria fugir momentaneamente daquele lugar, não queria encarar as pessoas que tanto me importo. Não tinha sequer o direito de impor o meu 'eu' dilacerado à elas. Peguei meu iPod e sai de casa. Illuminate My Heart, My Darling. Era só o que queria & precisava ouvir. A dor que tomava conta da minha alma, corpo e coração era avassaladora. Eram como facas atravessando meu peito a cada passo percorrido. Queria ser capaz de sumir. Andei até saber onde realmente era o lugar que me chamava naquele momento: O lago. Enquanto atravessava a alta e comprida passarela, tive certeza que era ali que eu deveria estar. Cheguei ao seu fim e não tive o menor medo da enorme altura que me encontrava. Sentei e nunca chorei com tanta vontade, força e dor. Jogando pedras na água, com força e até raiva, como se fosse me fazer sentir menos desesperada. Os sentimentos invadiam cada gota do meu sangue. A vontade de gritar era predominante. Senti que estava verdadeiramente sozinha, e que assim permaneceria. E mesmo eu que nunca fui chegada a religiões, mas sempre tive fé em Deus, comecei a perdê-la naquele momento (...).

Realmente não sei se alguém compreende isso tudo como um todo. Certas vezes nem eu mesma entendo. Mas esse choque e surto todo não se deve somente a esse último fato ocorrido. Isso é resultado de toda uma junção de fracassos. Cheguei em um momento que a necessidade de pôr toda essa destruição pra fora era inadiável. Posso ser uma pessoa completamente errada, fria e egocêntrica. Mas ultrapassa qualquer entendimento que possa vir a existir todo esse carma que me acompanha feito sombra. Eu já havia desistido anteriormente, já havia me trancado e prometido não deixar qualquer sentimento crescer. Tanto que tudo correu bem, até mesmo quando eu fui posta a uma prova de resistência. Mas toda resistência tem seu limite. E o meu foi alcançado no meu lugar preferido, com uma demonstração de afeto e importância que não podia ser negada e/ou ignorada. Eu realmente deveria ter ido de devagar com o que sentia, ter posto um freio enquanto podia. Não, mais uma vez me deixei levar. E mais uma vez cavei um buraco até o subsolo do fundo do poço. Agora é mais do que uma desistência... é a promessa que eu fiz ao Gabriel. Por um tempo longo e indeterminado não serei mais eu mesma. Aprenderei a ser fria e distante como já fui. Não tem solução diferente disso. Não fui feita pra romances e tenho que aprender isso. Mas sabe o que me magoa mais nisso tudo? A falta de importância. Se eu estivesse morta não faria diferença. Não existe nenhuma preocupação... nada. É realmente como se tudo não passasse de um sonho, que nada chegou a existir. Assim, de uma hora pra outra. Certas vezes você descobre que a mágica não passava de um truque de ilusão. Que o que você tinha como realidade não passou de uma mentira. E que no final você ficou presa na Wonderland e que só cabe a nós a decisão de sair ou não. A vida não é composta por contos de fadas. Aqui as pessoas sempre serão inconstantes e sempre terão a tendência a magoar o próximo. A nunca pensarem mil vezes antes de falar ou agir. Não existe um pedido de desculpas. Não existe um arrependimento. Não existe uma importância. Não existe uma preocupação. Afinal, existiu alguma coisa?

Permaneci com os sentimentos, as lembranças, os sonhos e com o evidente & previsível "Adeus, Manuela.". Ponto final.

Coldplay @ Amsterdam

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