É curioso como as coisas acontecem e só damos conta do que aconteceu algum tempo depois. Lembro quando eu tinha uns 16 anos (acho) e vi um filme, PS I Love You, e fiquei obcecada com a Irlanda. Cheguei a fazer várias projeções do quanto uma viagem custaria, por onde eu passaria, o que estudaria. Depois disso, fui até o quarto da minha mãe e falei rindo "só preciso de 10 mil reais pra poder ir pra Irlanda", nesse tempo minha mãe ainda era a minha mãe. Ela riu, rimos juntas e ficou por isso mesmo - óbvio, afinal de contas né.
Em 2017 enquanto planejava o roteiro da Eurotrip, pensei em incluir a Irlanda. Muito caro, muito contramão. Pensei "no futuro farei uma viagem para o Reino Unido e aí incluo a Irlanda, mais fácil". Pois bem, avançamos para 2021 e temos uma bela surpresa: Vim morar na Irlanda. Inesperadamente, sem planejamento nenhum, um simples acaso. Aquelas frases clichês do tipo "hoje você vive a vida que vc já sonhou um dia" nunca fizeram tanto sentido.
Eu sempre tive uma tendência em reclamar muito da vida, a ser uma pessoa dramática. E digo com propriedade que eu tenho razão pra isso em vários aspectos sim. Porém nem em 1 milhão de anos imaginaria as voltas que essa mesma vida daria e onde ela me levaria. Aos sonhos que já realizei, a tudo que já conquistei, batalhas que enfrentei e ainda enfrento. Internas, externas. Me choca olhar pra mim e ver onde eu cheguei. E pode ser 100% clichê, mas nesses momentos eu esboço um sorriso no rosto e sou grata por mim, pelos meus que lutaram por mim, por quem anda comigo. Significa que tudo está sendo perfeito, que o caminho foi florido e ensolarado? É claro que não. Mas sinto orgulho de conseguir conquistar tantas coisas, mesmo sabendo da parcela de privilégio que me cerca sim, mas não desmerecendo a trajetória que tive.
Me formei, migrei pra outra profissão com dor de deixar tantos planos e sonhos que tinha com o diploma. Mas que provavelmente foi uma das melhores escolhas que já fiz. Trabalhei por 3 anos em um dos lugares mais incríveis que alguém pode frequentar, com pessoas igualmente incríveis que tive a sorte de encontrar. Sorri, chorei, tive crises de ansiedade, mas fui muito feliz. Volto a olhar para as minhas conquistas - profissionais, pessoais, sociais - e sinto orgulho. Por muito tempo me coloquei num lugar onde não me julgava boa o suficiente pra outras pessoas, que não era capaz de alcançar grandes coisas. E hoje olhar e ver tudo que aconteceu nos últimos anos me deixa tranquila em saber que eu sou alguém incrível também e que eu achei pessoas que enxergam isso também.
Parece que a síndrome dos 30 anos chegou com força aqui (rs), ando bastante reflexiva com a vida. Com tudo que tem acontecido e que aconteceu nos últimos muitos anos. Em como me prendi em vários âmbitos, em como me limitei a caber em pequenos espaços que não eram pra ser meus. Mas que isso formou a pessoa que vos escreve hoje aqui, depois de anos. Ainda tenho sim meus problemas, ainda luto diariamente com problemas que não consigo resolver, ainda tenho dias que a ansiedade me consome.
A idade também me trouxe ideias de responsabilidades que na realidade não são minhas (e a minha psicóloga que o diga). Ainda luto com todo o drama que a minha mãe trouxe e ainda trás pra minha vida, com a pessoa que ela escolheu se tornar e que eu não reconheço mais como a mãe que eu já tive (por mais problemática que essa relação tenha sido desde muito tempo atrás). Sexta passada na minha última terapia abri uma caixa que há muito tempo não abria, a caixa de 2017. E depois de abrir me toquei novamente do quão absurdo e inacreditável foi tudo que aconteceu naquele ano. E que embora já tenham se passado 5 anos, os reflexos de vários momentos daquele ano ainda estão aqui. Os problemas que ela criou ainda existem - com menos intensidade, porém existem.
Isso me faz lembrar que a pessoa que eu era com 16 anos já queria algo diferente pra si mesma, já não queria fazer parte daquela convivência e sabia lá no fundo que um dia iria sair daquele contexto sim. E o resto é história. Hoje posso falar que construi minha família, onde nem todos são da mesma espécie, em que temos nossos defeitos, mas que é minha e que é grande parte da minha base.
Mas porque raios voltei a escrever aqui depois de tanto tempo? Não sei. Pode ser o efeito da minha primeira semana sabática, pode ser a falta de sono ou pode ser apenas um registro para a posterioridade de onde eu estava no dia de hoje.
Harry Styles @ As It Was